
Biografias
Correia, Carlos Alberto
Concerto Para Sanca João
Resumo
TORTURA NA GUERRA COLONIAL(…)
Numa tenda próxima da nossa, atado como rolo para o forno, jazia o capturado pelo Brito (…). Desamarem-no. Deixem apenas as mãos e os pés atados. O Matias sentou-se numa cadeira em frente do prisioneiro. Não deves ter passado uma noite boa.Toni a cada paragem traduzia as palavras do Major. O preso mantinha-se silencioso. (…) Como te chamas?” Sanka João. Iso é tudo quanto te direi”.” Veremos”. (…)” Qual é a tua tabanca?”. Silencio. Um murro poderoso atirou o prisioneiro de cara ao chão. (…) o Nove afastou-se de cena. (…) Tens um estômago demasiado frágil para este trabalho. Toni, leva-o lá para Fora. Amarra-o àquelaárvore, não deixes que ninguém lhe dê comida ou água” (…).Durante duas noites e dois dias, fruto a amadurecer, ficou Sanka João cravado naquela árvore.Pela tardinha o Toni foi buscar Sanka. Chegou, o braço forte de Toni amparando-o a meia cintura, os pés sem acção, arrastados no chão, a cara um inchaço desfigurado. Se não soubesse ser ele não o reconheceria. (…) Despenhou-se no pavimento- dos lábios rebentados saiu, rouca, impercetível a palavra água. Agarro-o pelos ombros para o erguer. É trapo mole incapaz de manter-se erecto. Seguro-o com um pouco mais de firmeza. A pele solta-se do corpo, fica-me colada às mãos. O Matias manda o Toni trazer um balde água e coloca-o próximo do prisioneiro. ”Podes beber quanta quiseres. Basta dizer-me de onde vens e para onde levas o carregamento. ”Mal conseguia fazer-se ouvir. Soaram então com a força de terramoto nas minhas certezas, as únicas palavras ditas naquele interrogatório:” Sanka não trai companheiros. Tu vais matar-me o corpo, mas não matas a ideia na minha cabeça”. Saí enjoado, vomitei na parte de trás da tenda. Nessa noite apanhei a primeira grande bebedeira da guerra. Carlos Alberto Correia foi voluntário de guerra em Cacondo, Guiné. Sanka João faz mudar a vida do narrador. Integrou a resistência à ditadura portuguesa.

Gorjão Henriques, Joana
Ensaio
“O PRIMEIRO TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO SOBRE O LEGADO DO COLONIALISMO PORTUGUÊS. Cinco países. Cinco viagens. Cinco reportagens. Mais de cem entrevistas que procuram compreender a forma como o colonialismo marcou as relações raciais. Os portugueses terão sido mais brandos e menos racistas do que as outras potências coloniais, como o lusotropicalismo quis fazer acreditar? ”…..
